Renovados, saímos cedo, na esperança de encontrar a Aduana vazia. Descobrímos na hora que a decisão de parar para dormir tinha sido acertada. A estrada Chile-Argentina nesse ponto é um espetáculo a parte. As montanhas são rochosas, com cores e desenhos variados, além de seguir o curso de um rio, que causa uma erosão bonita, parece arquitetada.
Outro ponto que merece destaque são os Caracoles, sequência de curvas que sobem a cordilheira. Se você virar bem rápido, consegue enxergar a placa traseira, de tão fechadas que são as curvas.
Chegamos na Aduana e Tcharãnnn, fila. Para ser mais exato, 2 horas pra passar por ela. Enquanto esperava na fila, lembrei do comentário de um frentista, ainda em Santiago: -Cara, quase congelei uma vez nessa fila. E eu pensei, o cara tá maluco né? Com esse calor que está aqui em Santiago, como vou passar frio? Ele deve ter ido no inverno...
Só que o espertinho aqui se esqueceu que a Aduana é na cordilheira, a mais de 3.000 metros de altitude. Não deu outra, friaca total, a sorte é que tinha um solzinho bem camarada para esquentar. Fico imaginando isso aqui no inverno, congela mesmo, literalmente. Tem um montão de placas informando que os carros somente são permitidos a subir com correntes nos pneus pois a pista fica com gelo.
Burocracia realizada, bora descer tudo o que subimos. Show de bola de novo, o caminho todo é fantástico. Passamos por vários precipícios, túneis de pedra, pontes, etc. Valeu mesmo a pena ter feito esse caminho de dia.
Passando Uspalatta, a estrada volta a chatice costumeira. Campos e mais campos, de ambos os lados, um marasmo total. Pelo menos de manhã valeu o dia. Combinamos de rodar o máximo que conseguíssimos, pois deu os 5 minutos no Lucas e ele não vê a hora de chegar em casa.
No finalzinho da tarde quem deu as caras de novo??? Vento maldito. Putz, a motos não passavam de 100km/h nem a pau, empurrão, oração, xingamento, qualquer coisa. Tivemos que apelar para o jeitinho argentino, isso mesmo, argentino: Chupão hehehe. Colamos atrás de um caminhão e fomos embora, protegidinhos do vento. Sabemos que não é o mais recomendável em termos de segurança, mas ninguém mais merece vento nessa viagem né?? Chega. Seguimos atrás de um dos pneus, o cara não ia passar em cima de cacareco, certo? Pelo menos é mais seguro que ficar no meio...
Paramos somente um pouco depois de escurecer. O dia rendeu hoje, recorde de quilometragem. O que matou hoje, com certeza, foi o calor excessivo. A 110km/h o vento parece um bafo quente, sufocante, não tem refresco. A toda parada era no mínimo meio litro de líquido e, mesmo assim, minha boca rachou com o vento quente e seco.
Sobre a cidade que paramos, Rufino, parece ser legalzinha, típica cidade do interior. No primeiro hotel que passamos já ficamos. O dono não tinha estacionamento para as motos mas não se fez de rogado, puxou logo uma rampa e entramos com a moto dentro do saguão do Hotel, isso mesmo, dentro do Saguão.
Depois que as motos já estava lá dentro vi que o quarto era bem fuleirinho mas, depois da hospitalidade do dono e do trampo de colocar as motos no saguão, ficamos por lá mesmo.
Corremos jantar e, Parenteses geral: ô paisinho atrasado esse heim??? Quase nenhum lugar que fomos aceitava cartão. No Brasil, até o bar do Zé vende paçoquinha no crédito. Fecha parenteses :)
Voltando, rodamos a cidade inteira em busca de algum restaurante que aceitasse cartão, visto que nosso dinheiro já era (também, duas manutenções de moto, zerou a reserva) e nada. No último lugar que fomos, apelei e comecei a chorar as pitangas hehe, deu certo, o dono do lugar perguntou se eu tinha "Reales". Opa, a coisa começou a melhorar. Sorte que eu tinha e que ele vai para o Rio daqui 10 dias, fome com a vontade de comer. Acertamos o cambio em 2,30 e comemos felizes da vida.
Dicas do Brasil dadas, refeição realizada, bora dormir na espelunca. Amanhão temos 430km até Buenos Aires.
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